23 de junho de 2005


a Boca de Incendio, numero 1. A numero 2 esta' em preparaçao e sai daqui a um mes. tera' literatura, poesia visual e notas de banco falsas, com design neoclassico a tinta fluorescente. Imagens aqui quando sair.

21 de junho de 2005

historia do dia

Estavamos ha' pouco em reuniao aqui no escritorio, quando telefona um tipo que nos deve fazer um orçamento para uns brise-soleils. Ele tinha aqui estado ontem, eu estive-lhe a mostrar o projecto, e no final imprimi umas folhas directamente, porque o rapaz (a primeira coisa que disse foi : "trata-me por tu que devemos ter a mesma idade") nao era "muito practico com o email" e que "preferia fazer à maneira antiga" (i.e. com folhas de papel). Eu ja' tinha achado aquilo um bocado estranho, alguem que supostamente representa uma empresa que nao sabe usar o correio electronico. Mas nao liguei muito (alem disso, este jovem vende os tais brise-soleils em aluminio a imitar madeira (!), por isso o meu interesse tambem nao foi muito grande). Adiante; tinha-lhe dado dois alçados a 1/100 e um corte construtivo a 1/20. Foi assim:
Ele: Hmm, tenho aqui uma duvida: acho que me deste plantas com tamanhos diferentes. Qual é a dimensao que devo usar para fazer o orçamento.
Eu: Deves medir o corte construtivo, nao os alçados.
Ele: mas deste-me aqui um alçado lateral que é maior, e nao sei qual dos dois utilizar para fazer o orçamento. é importante, capisci?
Eu: Que me lembre dei-te tudo bem... espera ai' que confirmo [vou para o computador e abro o ficheiro]. pois, esta' tudo bem aqui.
Ele: Hmmm. mas nao sei de qual dos desenhos é que hei-de medir, a diferença é grande.
Eu: Mas isso foi porque te imprimi os desenhos a escalas diferentes!
Ele: ah, e entao? so se um dos desenhos estiver à escala 1/20
Eu: entao medes o corte!!!!! como ja te tinha dito antes
Ele: ah entao os desenhos tem tamanhos diferentes mas nao a mesma escala, tenho que calcular a medida
Eu: DUHH!! pois, até esta' escrito no desenho!!!
Ele: ah, agradeço-te muito.

Depois contei ao chefe e ele saiu-se com esta pérola:
A dificuldade da arquitectura esta' em explicar a estas pessoas que nem sabem ler como se constroem as coisas. Estes matarruanos estavam antes com as vacas e agora lembrararam-se de abrir uma empresa de construçao.

!

infelizmente, tambem é assim em Portugal, ou nao?


rei de copas, uma de 40 cartas de jogar (nao editado).

20 de junho de 2005


capa de CD sobre a peça de teatro "Entristecer" na aldeia da Castanheira.

15 de junho de 2005

mais definiçoes de arquitectura

Tiago, esta imagem em baixo encaixa que nem uma luva para o teu ultimo post. A cupula so' podia ter sido feita por um arquitecto; nao um tecnico (que so' sabe como construir abobadas) nem um artista (que as deixa cair na cabeça das pessoas, como o Chillida). O facto de algumas obras terem uma forte expressao arquitectonica (como as obras do dito Chillida) nao as converte em arquitectura. Esta cupula é uma refinada demonstraçao de como o arquitecto é um técnico-artista, e nao so' no sentido de saber como a manter de pé, mas tambem de como a desenhar com a forma de um hexagono que se converte em circulo - e por sua vez isto torna-a 'artistica'.

13 de junho de 2005

cupula hexagonal


numa obscura aldeia a Norte de Roma, chamada Fumone, esta' uma igreja decrépita que dentro tem esta maravilha geométrica - um hexa'gono que se transforma em circulo e constroi uma cupula. Sem frescos nem anjinhos nem mariquices dessas - pura expressao arquitectonica. Grande.

10 de junho de 2005

até segunda

mais um fim de semana. Fazer a Boca de Incendio, pensar em autocolantes para bombardear a cidade, marcar encontros galantes no chiostro del Bramante e ir comer sardinhas (ha' mesmo gente que se deu ao trabalho de trazer sardinhas - sardinhas! - de Portugal). Esplendido.

8 de junho de 2005

novidades

Depois de uma lauta bacalhoada por terras romanas, regada com um maravilhoso e extrapotente vinho portugues, ontem à noite aprendi finalmente a por links nesta porcaria. Grande! Grande vergonha, porque era de caras, mas pronto, aqui estao para o divertimento geral. (so' faltam os acentos)

7 de junho de 2005

o debate de ha’ dois meses

Mais ou menos nessa altura, fui com a então inseparável namorada jantar a Trastevere. Como o nosso Corrado estava fechado, fomos a outro tasco nas redondezas. [nota: a trattoria da Corrado é um dos sítios mais genuínos e baratos para comer em Roma, no meio do mar de restaurantes foleiros para a turistada em Trastevere; só há três pratos: amatriciana (massa com tomate, bacon e queijo de ovelha e que tem que se comer com um guardanapo a proteger toda a parte frontal do corpo), spezzatino (estufado de carne com pimentos) e frango com queijo].

Estávamo-nos a deliciar com umas bolinhas de mozzarella fritas, quando começámos a discutir forte e feio sobre as Universidades públicas e privadas. Dizia eu (mal adivinhando a indigestão que me iria provocar) que era uma tristeza que em Portugal as universidades públicas sejam em geral as melhores, tendo como referência, claro, a nossa de arquitectura. A isto ela contrapôs que não, que isso é que estava bem porque assim toda a gente tem acesso a um ensino de qualidade, e que isso era um sinal de avanço do país.

Ora, aquilo que eu queria dizer (e que na altura não soube explicar, porque acabámos os dois aos gritos no restaurante – depois saímos e uns beijinhos resolveram a questão) é que o problema não é as públicas serem melhores, mas sim as privadas serem tão más, e funcionarem regra geral como solução de recurso para aqueles que não entram para a pública. Isto diz muito da cultura empreendedora do nosso país – que é zero ou quase. Não há (e falo de arquitectura, mas certamente isto aplica-se a tantos cursos) uma Universidade que queira ganhar dinheiro através da excelência e preparação para o mundo do trabalho. Em Roma, quem tem dinheiro põe os filhos a estudar na LUISS, uma privada, em que quem acaba recebe imediatamente propostas de trabalho em empresas. O mesmo na LSE em Londres. Claro está que não têm arquitectura, mas não se perderia nada se o nosso curso funcionasse um pouco mais como economia. Quanto a mim a FAUP podia ser perfeitamente uma escola privada, porque, mesmo disfarçadamente, tem uma orientação estética e ideológica fortes e uma preparação de excelência - apesar de carcomida pelas dezenas de tachos que se acumulam no sector docente. Estes, num regime privado em que tem que se ganhar dinheiro, seriam substituídos por quadros competentes...

E agora a questão central – mas e então assim quem não tem dinheiro não pode usufruir desse ensino de qualidade – quanto a mim é para isso que serve o Estado (vd post anterior), precisamente para garantir que tem tenha estudado mas não tenha culpa de ter pais remediados, possa estudar numa privada. Ao mesmo tempo, o Estado gasta menos recursos com as Universidades, e pode dar bolsas decentes a quem precisa. E se há muita gente que precisa de um bolsa decente, mais ainda o nosso pobre Estado precisa de gastar menos recursos.

3 de junho de 2005

vantagens da regionalizaçao: eleiçoes em Roma 2 e 3


traduçao: BAIXAMOS OS PREçOS, NAO AS CUECAS! ATé ESSAS NOS TIRARAM! CONSUMIDORES VOTEM POR VOCES PROPRIOS!
este elegante e refinado politico morava no andar de cima do prédio da minha ex namorada.


ei-lo aqui. Agora que a data ja' passou ha' uns meses, nao ha' grande problema em lhe fazer publicidade!
Por aqui é assim: os partidos de direita elegem um enorme numero de atrasados mentais para a regiao, e logo tem cartazes muito mais fixes. Os de esquerda sao uma seca, so' acusaçoes e insultos, sem personagens comicos. (excepçao feita aos de extrema-direita, que sao uma seca igual com frases em latim do género Roma nao morre se os Romanos nao morrerem. Bahhh!)

o debate de quarta à noite

Mais uma vez, eu e a minha inseparável amiga Luísa (nome fictício) tivemos uma discussão sanguinária enquanto toda a casa queria jantar harmoniosamente. Referia-se a discussão à medida da moda, a de aumentar os impostos, em relação à qual somos os dois contra.

L – há uns tempos tive que ir ao oftalmologista no hospital (público). Esperei dois meses por uma consulta. Quando lá cheguei, tinham marcado todas as pessoas para a mesma hora, logo quem não era da terra (como eu sou) teve que esperar mais não-sei-quantas horas para ser atendido. E quando chegou a minha vez, fizeram-me o diagnóstico errado – disseram-me que o problema era no olho direito, quando na verdade era no esquerdo; uns dias mais tarde, paguei uma consulta privada e confirmei isso mesmo.

A – Claro...

L – Claro nada!!! Já que pagamos tantos impostos temos é que ter serviços públicos decentes!!!

A – Então não devias ser contra o aumento dos impostos! Eu preferia que isso não fosse feito pelo Estado, e assim houvessem menos impostos!

L – Isso é uma posição derrotista! Não eras tu que querias que fosse para lá o PS para afundar de vez com o país?!?! Agora tens o que querias!!!

A – Sim, porque o que é preciso em Portugal é que as pessoas levem uma chapada na cara como estas para ver se acordam para a vida e apareça alguém do PSD que pratique uma política mais liberal!!!

L – Isso é uma estupidez e nunca vai acontecer!!! É POR CAUSA DE PESSOAS COMO TU QUE AQUILO VAI MAL!!!!

A – SE MAIS PESSOAS PENSASSEM COMO EU ESTÁVAMOS MUITO MELHOR!! EM PORTUGAL QUEM CRIA RIQUEZA É CASTIGADO!!

L – MAS QUEM GANHA O SALÁRIO MÍNIMO NEM SEQUER PODE PENSAR NISSO!!!

A – ISSO É UMA POSIÇÃO DEMAGÓGICA!!! NÃO SE PODE DISCUTIR CONTIGO!!!

L – OLHA VAI À MERDA!!!!

...............

Ok, a nossa relação de amizade até é bastante saudável, já que hoje, dia da Républica em Itália, estamos os dois no Chiostro del Bramante a tomar café. Eu escrevo (e publicarei isto amanhã, dia 3, quando fôr trabalhar) e ela estuda pelo Kenneth Frampton, que ainda não é tão verborreico e novilinguista quanto o saudoso Mendes, mas lá se aproxima.

Fora os insultos, o tema é: ou queremos ter melhores serviços pelos impostos que pagamos, ou queremos pagar menos impostos e usar o dinheiro que sobra para pagar aos privados. Quanto a mim, a primeira hipótese é cada vez menos sustentável; em Itália, que funciona mais ou menos como nós (e onde se paga ainda mais impostos, desculpa que o meu chefe dá para me pagar um salário miserável), há greves do serviço público todos os meses, e ele funciona horrivelmente.

É óbvio que não podemos pedir que um político ganhe eleições com a promessa de acabar com a mama pública, mas que se podia começar, pragmaticamente, por algum lado, isso podia e até já esteve para acontecer. A privatização de um canal da RTP, da CGD, e a lei das rendas eram tudo medidas inteligentes que tragicamente não foram para a frente. Mas mais vale tarde...

para que serve o Estado

Este sábado, por vários motivos relacionados com visitas de amigas mais ou menos liberais (politicamente!), acabei por ficar em casa no Sábado à noite. Isto teve duas vantagens: não só pude descansar dos dois últimos fins de semana sem dormir, como escrever qualquer coisa que prestasse, meter na pen e publicar esta semana, no computador do escritório. E com acentos, o que me dá imenso prazer.

Para que serve o Estado (3 pontos sem ordem de importância)

1. Para proteger os mais fracos dos mais fortes – e é por isso que polícia e tribunais devem funcionar e ser modelos de eficiencia, não só em relação aos abusos dos cidadãos mas também aos das empresas que prestam serviços;

2. Para proteger o país, e cumprir acordos de segurança internacionais – e para isso precisa de um Exército digno, especializado mas ancorado na população, não em mercenários;

3. Como modelo moral. O Estado é o garante da Lei e esta não pode relativizar o bem e o mal – a prostituição e as drogas, por exemplo, são coisas negativas em si mesmas, e a sociedade não deve aprová-las. Quando muito, por uma questão de pragmatismo, pode tolerá-las, mas não achar “bem” uma coisa que intrinsecamente é “mal” (e desafio quem quer que seja a provar que pagar para ter sexo pode ser um acto elevado), apesar destas duas coisas serem, em princípio, da responsabilidade exclusiva de cada um.

[pode-se tambem invocar um argumento liberal, que é o de que o facto de uma pessoa poder ir às meninas ou mandar o caldinho livremente contribui para a degradação da sociedade, e assim vai afectar terceiros que nada têm a ver com isso]

Este último ponto também se aplica no caso dos países nórdicos, em que não só o Estado encaixa mais de metade da produção dos cidadãos, como comete o erro de lhes dar tudo o que eles precisam e querem, tirando-lhes assim qualquer hipótese de satisfação pessoal com o facto de se esforçarem para atingir um objectivo.

Nada mais me ocorre. Hospitais, escolas, televisões, arquitectos, podem ser todos privados que não vem mal nenhum ao Mundo. Antes pelo contrário, e só assim o Estado se pode livrar dos pesos mortos que consomem a riqueza produzida pelos cidadãos e cumprir as suas (poucas e importantíssimas) funções como lhe compete.

1 de junho de 2005

esta' tudo louco

E esta' tudo dito, aqui, aqui e aqui. Por isso,

A soluçao para este buraco chamado Portugal nao é aumentar os impostos para alimentar a mediocridade dos serviços estatais, mas sim descartar tantos dos ultimos quanto possivel para baixar os primeiros e assim permitir a fixaçao de empresas e o crescimento econo'mico.

E nao ha' apelos patrioticos del cazzo que o valham.

Por aqui é igual ou pior. Todos os meses ha' greves de transportes publicos e toda a gente fica com um dia estragado em que perdeu tempo de trabalho porque tudo depende do estado e o estado nao despede os seus trabalhadores, nao diferencia o mérito individual e esta'-se nas tintas para a optimizaçao de recursos. Tal e qual como em Portugal, mas aqui temos o Norte a sério, com empresas a sério que exportam bens de luxo e que ainda vao aguentando a coisa (e nao estou a falar da FIAT, que essa sim é mais um claomoroso caso de empresa privada mantida pelos dinheiros publicos, uma perversao perfeitamente possivel por aqui).